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CONFORTO TÉRMICO E AMBIÊNCIA

Com o aumento do potencial produtivo das vacas de leite, houve um aumento da sensibilidade desses animais aos desafios metabólicos que ocorrem no início da lactação, o que aumentou a incidência de doenças em 30 a 50%. Além disso, a alta produção está associada com o aumento da geração de calor metabólico, que pode ser um problema nos períodos quentes do ano, ou para animais que são criados em regiões de clima tropical ou subtropical.

O índice de temperatura e umidade (ITU), pode ser utilizado para monitorar as condições ambientais em que os animais estão submetidos. A sensibilidade a esse índice dependerá do quão produtiva é a vaca, porém acredita-se que o ITU a partir de 68, já é suficiente para provocar desconforto ao animal de alta produção, o que irá refletir negativamente na lactogênese.

 O estresse térmico atua no trato reprodutor da fêmea provocando alterações no eixo hipotálamo-hipófise-ovariano. Nos ovários o crescimento e a função dos pequenos folículos antrais podem ser comprometidos durante semanas e assim prejudicar o funcionamento dos folículos dominantes e pré-ovulatórios, comprometendo as etapas que levam à ovulação e à formação do corpo lúteo (CL). Além disso, o estresse térmico pode afetar diretamente o desenvolvimento embrionário.

As condições ambientais e fatores como radiação solar, temperatura ambiente, umidade relativa e velocidade do vento, podem influenciar na capacidade do animal manter a temperatura dentro da normalidade. O estresse calórico é considerado um dos maiores fatores limitantes para se atingir a meta de aumento de produtividade leiteira, tendo em vista que um desempenho ótimo será alcançado, quando os animais forem mantidos em uma faixa de temperatura considerada como “ótima para produção e para a saúde”. Quando a temperatura do ar excede essa faixa, o organismo dos animais ativa mecanismos para a dissipação do calor. Esses requerem energia para ativação, a qual é desviada da finalidade produtiva, reduzindo assim, a eficiência de produção.

No entanto, quando a temperatura ambiental atinge ou supera a temperatura corporal, ocorrem alterações fisiológicas adicionais como transpiração, respiração ofegante, aumento da frequência cardíaca, os animais passam mais tempo em pé e podem ocorrer mudanças metabólicas.

Uma alternativa para regiões de climas tropicais e subtropicais, foi a criação de raças mestiças B. indicus x B. Taurus, com objetivo produzir animais adaptados, garantindo a eficiência produtiva que animais taurinos possuem. Como exemplo temos, o cruzamento entre animais da raça Holandesa que são taurinos, que contam com a característica de ter maior produção de leite, com animais Gir, considerados zebuínos, resultando na raça Girolando, um animal com maior produção leiteira, quando comparado a Gir e mais adaptado ao clima tropical, além de serem mais tolerantes a ectoparasitas que os animais Holandeses.

Logo a baixo podemos observar um gráfico do limiar de conforto térmico dos diferentes graus de cruzamento dentro da raça Girolando.




Adaptado: https://doi.org/10.5713/ajas.19.0960

De acordo com Negri et al. (2021) o gráfico acima mostra que os animais da raça Girolando ¼, ½, 5/8 são mais termotolerantes a altas temperaturas, que o da raça holandês. Mostrando que houve um ganho genético das características da raça Gir, que a tornou mais adaptada a regiões de clima tropical e subtropical. 

Dadas as limitações das respostas fisiológicas da vaca para aliviar os efeitos do estresse calórico, intervenções de alívio têm sido desenvolvidas e implantadas no sistema produtivo, baseadas em duas abordagens principais, resfriamento indireto e resfriamento direto.

Resfriamento indireto


              O objetivo do resfriamento indireto é reduzir a temperatura ambiente ao redor do animal para manter um gradiente térmico e possibilitar a troca de calor. Para isso, são utilizados três componentes:

  • Construção de galpão para alojamento dos animais
  • Produção de área de sombra que reduz o calor irradiado pelas vacas
  • Ventilação artificial
  • Resfriamento com água, que pode ser feito por pulverizadores que em contato com o vento evapora a água e reduzem a temperatura do ambiente.

Resfriamento direto

O objetivo do resfriamento direto é extrair calor por evaporação forçada da superfície do animal. Ou seja, a superfície corporal do animal é molhada com aspersores que ficam próximos à linha de alimentação dentro do galpão, ou na sala de espera na ordenha. Além disso, essas estruturas contam com ventiladores de alta potência que promovem a evaporação da água na superfície corporal das vacas.

A fazenda São Caetano localizada no município de Morrinhos no estado de Goiás, aplica ás duas metodologias de resfriamento citadas no texto acima. Além de investirem no sistema de integração lavoura e pecuária, que promove sustentabilidade e bem estar para os animais. Entre as estratégias de proporcionar conforto térmico, estão a instalação de vários pivôs na propriedade que além de irrigarem a lavoura de diversas culturas e a pastagem, também resfriam o ambiente e os animais, por meio da aspersão de água, tendo benefício de estar localizada em uma região de boa circulação de vento promovendo assim o resfriamento direto e indireto.

De forma muito dinâmica a propriedade aplica um sistema de rotação dos lotes de diferente categoria animal entre os diferentes ambientes o que proporciona o melhor aproveitamento da infraestrutura com o objetivo de deixar os animais em conforto térmico ao longo do dia e da noite. Um exemplo disso é o lote de pós parto e primíparas que passam o dia dentro do galpão de Compost barn e a noite são movidas para o piquete de pasto irrigado com pivô. Já as multíparas passam o dia no pasto e a noite vão para o galpão de Compost barn. Além dessa estrutura a fazenda também conta com galpões no modelo Free stall, que também possui seu sistema de revezamento dos animais.

Logo abaixo podemos observar algumas imagens dos animais desfrutando desses ambientes acima descritos.

Animais da raça girolando alojados no galpão Free stall

Animais a pasto sendo aspergidos pelo pivô

Resfriamento sendo feito na sala de espera próximo à ordenha.

Aspersão e ventilação sendo realizados no galpão free stall durante o momento de alimentação dos animais

Animais descansando no galpão Compost barn sob ventilação

Área de aspersão de água e ventilação localizada ao lado da estrutura do galpão compost barn.

Referências bibliográficas

Amaral A, Barbosa, LV V, Freitas K. Estresse térmico em vacas leiteiras – PR: Atena, 2021

Roth Z. Cooling is the predominant strategy to alleviate the effects of heat stress on dairy cows. Reprod Dom Anim. 2022;57(Suppl. 1):16–22. DOI: 10.1111/rda.13765

Negri R, Aguilar I, Feltes GL, Machado JD, Neto JB, Maia FMC, Cobuci JÁ. Inclusion of bioclimatic variables in genetic evaluations of dairy cattle. Anim Biosci 2021; 34(2): 163-171.DOI: https://doi.org/10.5713/ajas.19.0960

Viegas J, Otto PI, Bermudes RF, Valle TAD. O papel da inovação do enfretamento das incertezas da bovinocultura leiteira contemporânea. Canoas – RS – Brasil 2021 Mérida Publishers.  DOI: https://doi.org/10.4322/mp.978-65-84548-00-8

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